quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"Acredita que mereces..."

Cara amiga

Acho que está na altura de te apresentar algumas pessoas que me têm acompanhado. Foi há já alguns anos que os conheci, e à medida que o tempo passa, cada vez mais sinto que tive uma grande sorte em conhecê-los. E o mais estranho, é que foi o acaso que os trouxe até mim. Eu tinha talvez os meus 10, 11 anos e andava a aprender ponto de cruz com a professora Palmira do Paço. Lembro-me vagamente de observar duas jovens que, encostadas a uma janela no Centro do Paço, conversavam animadamente, e depois, lembro-me também de elas sairem com dois ou três jovens que as vieram buscar. Não sei porquê, mas esta imagem ficou-me gravada na memória. Naquela altura, apesar de eu não conhecer quase ninguém, ouvia falar em muitas pessoas de Rossas, cujo nome era anunciado muitas das vezes. Nomeadamente em conversas com gente conhecida, falava-se do Professor Mário e do Miguel do Professor Mário, que eu me esforçava por distinguir do professor Zé Mário. Confusão, ah? Bem, adiante. O José Paulo era da minha turma, e conhecia-o desde pequenino. Ouvia falar da professora Isabel, do Fernando Antunes, do Rui Marcos, e só mais tarde vim a saber quem eles eram realmente.
Também por volta dessa altura, lembro-me de assistir a um concerto do grupo de jovens, se não me engano, pela altura das Janeiras. Foi então aí, que, ainda um pouco caricaturado, fiquei a conhecer o Miguel do Professor Mário. Com um sorriso nos lábios, e com a sua guitarra que tocava com orgulho, gritava ao chegar ao final de cada música "É p'ra acabar!", e aquela expressão ficou registada. Mas o Miguel do professor Mário não deixou de surpreender. O primeiro Teatro a que me lembro de assistir com o Miguel como personagem principal, foi o "Médico à força". Estava sentada numa das filas do meio, e lembro-me de sair do Centro a limpar as lágrimas de riso. Cada vez que ele mexia um braço ou uma perna, as dezenas de pessoas que assistiam ao Teatro davam gargalhadas sonoras. Muitas delas chegavam a sufocar, pois não havia um momento que ele nos permitisse deixar de rir. E foi a partir daí que fiquei fã. Comecei a tornar-me público assíduo dos teatros, e não me importava de ver o mesmo vezes sem conta, que ria como se fosse a primeira vez.
Entretanto, fui descobrindo quem eram os jovens que tinha visto naquele dia no Centro de Rossas. As duas raparigas eram a Anita e a Odete, com quem hoje me dou muito bem. Só passado algum tempo é que soube que o Miguel e a Odete haviam casado ou iam casar. E aí, apercebi-me de quão belo par formavam. Mais tarde, não me lembro como ou porquê, entrei também para o grupo cultural, do qual ambos faziam parte. E aqui sim, passei a conhecer o Miguel e a Odete. A Ritinha já tinha nascido, e era a primeira verdadeira prova daquela relação. E não só. Aqueles dois grandes amigos revelaram-se, para além de honestos, verdadeiros, simples, no fundo maravilhosos, também pais excelentes. O carinho estava à vista de todos. E agora, mais recentemente, veio o Tiago. E desta vez, tive o privilégio de assistir à gravidez da Odete. Mais bonita que nunca, nunca mudou de postura em relação a ninguém, e tratou de cuidar da Rita da mesma maneira de sempre, para que conseguisse habituar-se a ter mais um maninho a brincar em casa. Mostrou-se a mesma mãe dedicada, e a mesma mulher maravilhosa que é, e que eu tanto admiro.
Agora o Miguel... Eu não sei se me atrevo a falar dele. Sinto que vou cometer a injustiça de deixar alguma coisa por dizer, mas ele merece. Guardo na memória alguns daqueles dias em que, apesar de chuvosos, lá vinha ele, todo atarefado, cheio de papéis na mão, para mais um ensaio de teatro ou revista, ou para mais uma aula de guitarra. Também relembro aquelas tardes imensas, frias e longas de explicações de Matemática. Lembro-me tão bem de o ouvir dizer "Eu peço desculpa, mas não entendo muito disto", e no entanto, cada vez que pegava num lápis e rabiscava uma folha, lá estava, mais um exercício resolvido. Ou então, daquelas vezes em que eu precisava de meia hora pra resolver um exercício, e ele perdia a paciência (apesar de não mo mostrar), resolvendo-o logo de seguida de uma forma tão simples e natural... Tanta coisa... Nunca o ouvi dizer não. Nunca o ouvi recusar um pedido de quem quer que fosse. Nunca o vi desistir de ensaiar aquela cambada para o Teatro, ou para a Revista, ou para qualquer concerto, ou atuação. Nunca! E nunca o vi a ser falso, nem convencido, nem vaidoso... Nunca o vi a sobrepor-se a ninguém, ainda que, muitas vezes o merecesse... Nem nunca o vi a dizer alguém que era impossível, ou que não tentasse. Nunca! E nunca conheci alguém que fosse capaz de me fazer pensar tanto como ele... Porque, apesar de não querer admitir, é sábio, é conhecedor de tanta e tanta coisa, já viveu tanto e tanto, e dispõe-se a partilhar cada gota de água ou cada migalha de pão com qualquer pessoa que tenha a felicidade de se atravessar no seu caminho. E aqueles textos... As lágrimas que já me correram pelo rosto ao lê-los, ao saborear, eu própria, aqueles momentos. E nunca me canso de os reler e reler uma e outra vez. Porque de cada vez aprendo uma coisa nova. Aquilo é mais vida do que alguma vez eu serei capaz de viver. E tenho pena disso. Tenho pena de não poder ser como ele. Muito sinceramente! Não consigo encontrar as palavras certas para o descrever. Teria de comprar centenas de dicionários diferentes e não seria capaz de o fazer. E tenho de pedir-lhe desculpa por isso. Obrigada. É a única palavra que eu sei escrever, que me permite mostrar-lhe um bocadinho do enorme apreço que tenho por ele. E pela Odete, porque ela também é uma pessoa extraordinária. Obrigada aos dois. E obrigada a Deus, por me ter dado a maravilhosa experiência de os conhecer. Obrigada, muito obrigada!

Catarina

1 comentário:

  1. Perante tão gratas palavras fui agradecendo em silêncio.
    Porém hoje, ao relê-las, decidi deixar aqui registado o meu agradecimento embora as considere exageradas.
    Mas sim, no fundo acredito que sou um homem bom. E enquanto assim for só me posso dar por satisfeito.
    Beijinho =)

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